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ARTIGO - Biodiversidade brasileira e a urgência de proteger a Mata Atlântica e outros biomas

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  • há 3 horas
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Uma visão monopolizada da Europa ainda atrai mais investimentos apenas para a Amazônia, desconsiderando a perda iminente da biodiversidade em outras regiões do Brasil


A Mata Atlântica, bioma quase integralmente brasileiro, se estende do Nordeste ao Sul, com áreas interiores que somavam originalmente 1,3 milhão de km² — equivalente ao território da Inglaterra, França e Espanha juntos. Ainda ocupa pequenas porções no leste do Paraguai e no nordeste da Argentina.


Nos últimos 500 anos, o país que se autointitula “o mais biodiverso do planeta” vem promovendo um processo contínuo e devastador de degradação. Mais recentemente, Cerrado e Amazônia têm sofrido em larga escala. Mas foi a Mata Atlântica, especialmente a faixa leste do território, a primeira a ser fortemente impactada. Hoje, onde vive 70% da população brasileira — cerca de 120 milhões de pessoas — restam apenas 8,5% da cobertura original em bom estado de conservação, segundo o Atlas da Mata Atlântica (INPE/SOS Mata Atlântica). Esses fragmentos equivalem ao território da Hungria.


Mesmo reduzida e fragmentada, a Mata Atlântica continua essencial para regular o clima, garantir abastecimento de água e oferecer serviços ambientais fundamentais à qualidade de vida de milhões de pessoas. Com mais de 40 mil espécies de plantas e 1.300 espécies de aves, muitas delas endêmicas, o bioma segue sendo um dos mais biodiversos do planeta — e, paradoxalmente, um dos mais negligenciados no acesso a financiamentos externos.


Sem desconsiderar a relevância global da Amazônia, é urgente que a conservação brasileira seja guiada por critérios técnicos capazes de avaliar os diferentes graus de ameaça das 78 ecorregiões identificadas pelo IBAMA. Esse olhar permitiria direcionar recursos para áreas sob maior pressão, como a Mata Atlântica e o Cerrado, que enfrentam taxas de fragmentação e perda de habitat superiores às de muitas regiões amazônicas.


Num cenário de carência crônica de investimentos em biodiversidade, destinar recursos apenas à Amazônia, por critérios superficiais ou midiáticos, não é suficiente. O apelo internacional para “salvar a Amazônia” não pode ignorar que outros biomas já estão à beira de uma degradação irreversível.


É fundamental distribuir investimentos de forma equitativa, levando em conta a singularidade e a vulnerabilidade de cada bioma. Cada um deles desempenha funções ecológicas cruciais, e a perda de qualquer um compromete o equilíbrio ambiental e o bem-estar humano.


Em resumo: proteger a Amazônia é vital. Mas proteger a Mata Atlântica, o Cerrado e os demais biomas também é. Uma abordagem holística, baseada em prioridades técnicas rigorosas, é a única capaz de assegurar a biodiversidade brasileira e garantir o futuro das próximas gerações.


Clóvis Borges é diretor-executivo da SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental).


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