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“Produção de Natureza” apresenta práticas que promovem desenvolvimento regional a partir

“Produção de Natureza”, obra do biólogo espanhol Ignacio Jiménez Pérez, apresenta práticas que promovem desenvolvimento regional a partir da existência de áreas naturais bem conservadas, incluindo exemplos no Brasil

Com lançamento em setembro, em São Paulo, o livro demonstra que regiões bem conservadas podem viabilizar empregos e renda e incrementar o desenvolvimento regional, tornando-se relevantes ativos econômicos, como o turismo de natureza

O Brasil é o lar da maior biodiversidade do mundo. Gerar negócios responsáveis a partir da gestão de áreas naturais protegidas representa uma oportunidade não apenas no aspecto ambiental, mas, também, social e econômico. Nesse cenário, o livro “Produção de Natureza: Parques, Rewilding e Desenvolvimento Local”, do biólogo espanhol Ignacio Jiménez-Pérez, chega ao Brasil.

Autor do prefácio do livro, o diretor da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental, Clóvis Ricardo Schrappe Borges, afirma que a obra apresenta, em 582 páginas, um novo olhar para as áreas de conservação. “Ao contrário do discurso ainda bastante comum que relaciona áreas naturais como espaços que impedem o desenvolvimento econômico, Pérez, com sua experiência aplicada em outros países, mostra um enfoque que valoriza e gera apoio social à conservação de grandes áreas naturais. Ou seja, áreas naturais bem conservadas podem se tornar ativos econômicos no âmbito do turismo, sobretudo o internacional, gerando negócios e renda, além de empregos, especialmente para as comunidades locais”, diz.  Essa nova visão, por sinal, reflete-se em duas iniciativas em curso no Brasil: Grande Reserva Mata Atlântica (iniciada há dois anos) e, mais recentemente, Alto Pantanal.

O conceito de “Produção de Natureza” foi desenvolvido a partir de um trabalho realizado ao longo de 13 anos em Esteros Del Iberá, na Argentina, onde Ignácio atuou pela instituição Conservation Land Trust (CLT). No caso argentino as reações contrárias à conservação foram contrapostas a partir do argumento de que para ser possível viabilizar empregos e renda, a geração de novos negócios e o desenvolvimento regional, são fundamentais a existência e a manutenção de grandes áreas naturais bem conservadas, com a presença de espécies topo de cadeia, como os grandes predadores e os herbívoros de maior porte. Essa abordagem torna a agenda da conservação algo facilmente assimilável pela maioria dos públicos de interesse. A percepção da oportunidade para garantir desenvolvimento regional com base na conservação também altera uma costumeira visão negativa sobre a necessidade de proteção de áreas naturais.

Sobre os dois projetos brasileiros que se espelham na metodologia de Pérez, Grande Reserva Mata Atlântica e Alto Pantanal, Borges afirma que estes exemplos servem para demonstrar que a obra não oferece ao leitor apenas um exercício teórico, mas, sim, que pode propiciar mudanças concretas e tangíveis no ambiente, já com indicativos de sucesso num curto período de tempo. “É notável o fato de que já ocorre na prática, em duas regiões estratégicas para a conservação da biodiversidade brasileira e mundial, uma aplicação concreta de postulações do livro”, afirma.

Grande Reserva Mata Atlântica: é a primeira experiência no Brasil em que se aplica o conceito de Produção de Natureza. Está estabelecida num vasto contínuo de quase dois milhões de hectares entre os Estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, já com um amplo conjunto de atores, das mais diversas áreas, ativamente envolvidos. O trabalho tem como premissa tornar esse território em um grande destino turístico de natureza como mecanismo de desenvolvimento regional. Sua execução tem como suporte a liderança da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem Educação Ambiental com o apoio da Fundação Grupo Boticário.

Alto Pantanal: criado há três meses, reúne instituições e pessoas físicas que atuam na região pantaneira, como pesquisadores, empresários e a própria comunidade para, em conjunto, mobilizar a sociedade para as questões primordiais desse bioma. Um conjunto de importantes áreas protegidas, públicas e privadas entre o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso abre a perspectiva de ações incrementais de turismo envolvendo a geração de oportunidades de negócios e geração de renda local.  A iniciativa tem à frente o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e a Rede do Amolar, que atuam em sinergia com os propósitos do projeto “Documenta Pantanal”.

Ameaças recentes e riscos do avanço da degradação da natureza no Brasil demandam respostas consistentes em busca de uma reversão de cenários. “O conceito de Produção de Natureza, adaptado a realidades específicas nos diversos biomas brasileiros, pode representar uma oportunidade sem precedentes para o estabelecimento de um modelo de grandes áreas naturais bem conservadas, percebidas pela sociedade como alternativa de desenvolvimento regional para porções significativas do território brasileiro”, complementa Borges.

Segundo o diretor do IHP, Angelo Rabelo, “o homem pantaneiro é a prova da possibilidade de uma coexistência de interesses num ambiente adverso. Há mais de 300 anos ele, talvez, tenha sido o primeiro produtor de natureza. A despeito de sua atividade econômica principal ser a pecuária, a fauna foi protegida no processo de ocupação que é, hoje, um exemplo para o mundo. O conceito da obra ‘Produção de Natureza’ acrescentará a esse paraíso possibilidades jamais imaginadas e que permitirão navegar em outros mares, trazendo um novo olhar e foco mundial ao ecoturismo da natureza com base nas exuberâncias locais”, diz.

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