Mata do Uru: parceria entre Posigraf, SPVS e família Campanholo protege129 hectares de Floresta com Araucária no Paraná
- Leticia Queiroz
- 8 de out. de 2024
- 3 min de leitura

Com 34 nascentes e vários de cursos d’água, RPPN é um dos casos mais longevos de
Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil e reforça papel estratégico das reservas privadas na conservação
Em meio à expansão agrícola e ao avanço do desmatamento no Paraná, a RPPN Mata
do Uru, na Lapa (PR), se consolidou como um dos mais importantes casos de
conservação da biodiversidade no Brasil. A reserva, fruto da parceria entre a Posigraf, a
SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) e a família
Campanholo, protege um remanescente de Floresta com Araucária em estado avançado
de conservação, ecossistema associado à Mata Atlântica e considerado um dos mais
ameaçados do país.
Com 129,6 hectares de Floresta Ombrófila Mista e Campos Naturais, a área integra o
Programa Desmatamento Evitado, da SPVS, que há mais de duas décadas garante a
proteção de áreas naturais privadas no Sul e Sudeste do Brasil.
Uma decisão que mudou a história da conservação no Paraná
A trajetória da Mata do Uru começou no início dos anos 2000, quando o proprietário
Gabriel Campanholo buscava alternativas para garantir a proteção de sua área, diante
de dificuldades financeiras. Em 2003, ele procurou Clóvis Borges, diretor-executivo da
SPVS, que foi responsável por aproximá-lo de Giem Guimarães, então diretor da
Posigraf, que sugeriu à empresa a adoção da área, já em processo de criação como
RPPN por iniciativa do próprio Gabriel.
Foi a primeira iniciativa consolidada com participação da SPVS em que uma empresa
assumiu compromisso formal com a proteção de um remanescente natural privado,
abrindo caminho para novas parcerias.
O nome Mata do Uru faz referência a uma ave silvestre que habita a região: o uru
(Odontophorus capueira), também conhecido como “uru-do-sul”. Espécie típica de
sub-bosque, o uru é considerado indicador de ambientes bem preservados, pois
depende de áreas naturais em bom estado de conservação para se reproduzir e se
alimentar.
Importância ecológica
A Mata do Uru funciona como área de amortecimento do Parque Estadual do Monge
(330 ha), formando um importante contínuo de áreas naturais protegidas. Em uma
paisagem dominada por agricultura, pecuária e reflorestamentos com espécies exóticas,
a reserva é um verdadeiro oásis de biodiversidade.
Levantamentos já identificaram 34 nascentes e 40 cursos d’água, incluindo o Rio
Calixto, além de três quedas-d’água, a maior com 10 metros. A cobertura vegetal
preserva espécies arbóreas emblemáticas, como a Araucária, além de uma ampla
diversidade de epífitas, bromélias e orquídeas nativas.
Em termos de fauna, diagnósticos com monitoramento ambiental e armadilhas
fotográficas confirmaram a presença de centenas de espécies, reforçando o papel
estratégico da área na conectividade da paisagem e na manutenção de corredores
ecológicos.
Plano de manejo e ações em campo
Como toda RPPN, a Mata do Uru possui um plano de manejo aprovado por órgão
ambiental, que orienta a execução de atividades como:
restauração de áreas degradadas;
controle de espécies invasoras;
monitoramento da fauna e flora;
manutenção de trilhas e estruturas de uso público;
apoio a pesquisas científicas.
Entre as trilhas, a Trilha das Araucárias foi escolhida para revitalização, por seu alto
potencial educativo e de visitação. No momento, a visitação pública está suspensa para
reformas que visam maior segurança e melhor experiência.
Um dos casos mais longevos de Pagamento por Serviços Ambientais no
Brasil
A RPPN Mata do Uru também se consolidou como um dos casos mais longevos de
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil.
O PSA funciona como um reconhecimento financeiro aos proprietários que optam por
conservar a natureza em suas áreas privadas. Essa preservação garante serviços
ecossistêmicos essenciais, como a proteção de mananciais, o equilíbrio climático, a
manutenção da biodiversidade e o fornecimento de água limpa para a sociedade.
No caso da Mata do Uru, o modelo pioneiro de PSA viabilizou a preservação da área
natural, tornando-se uma referência nacional em conservação da biodiversidade e
responsabilidade corporativa. Adicionalmente, a Posigraf passou a efetivar ações de
compensação de emissões a partir da iniciativa de proteção realizada. Mais tarde,
tornou-se a primeira empresa do setor gráfico a obter a Certificação LIFE, em 2014,
reconhecimento internacional que atesta práticas de conservação da biodiversidade.
“O caso da Mata do Uru mostra que a conservação privada é viável quando há parcerias
sólidas e visão de longo prazo. Até hoje, a SPVS já consolidou mais de 50 parcerias a
partir desta metodologia. Esse modelo não apenas protege a biodiversidade, mas
inspira soluções inovadoras para enfrentar a crise ambiental brasileira”, afirma Clóvis
Borges, diretor-executivo da SPVS.
Um legado para o futuro
Com mais de 20 anos de proteção contínua, a RPPN Mata do Uru prova que conservar
é possível, necessário e urgente. “O exemplo reforça que existe amplo espaço para que parcerias com empresas privadas atuem efetivamente na proteção de nosso patrimônio natural e, ao mesmo tempo, incorporem a natureza na sua gestão ambiental corporativa. Com isso, podem posicionar-se de forma diferenciada no mercado e junto a todos os seus públicos de relacionamento”, conclui Clóvis Borges.
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